Jamestown à caça de oportunidade em Lisboa e com um olho no Porto

Em entrevista ao Negócios, o presidente da Jamestown, que tem atualmente o edifício The Innovation and Design Building Lisbon (IDB), nos Olivais, admite constituir uma carteira de 300 a 500 milhões de euros em Portugal.

A Jamestown está à procura de novos edifícios em Lisboa para comprar e transformar mas também se mostra interessada em atacar o mercado do Porto. Em entrevista ao Negócios, o presidente desta empresa de investimento e gestão imobiliária, Michael Phillips, revela que tenciona investir já este ano na capital portuguesa e que tem "alguns prédios em vista", embora não queira adiantar que projetos estão a ser analisados. "Não posso dizer nada ainda", diz Michael Phillips, antes de dar uma gargalhada. "Mas sim, em Lisboa", reconhece. O radar está também ativo no norte do país. "Procuramos muito no Porto e temos muito interesse no Porto. Ainda não encontrámos o edifício certo, mas continuamos focados", indica. O perfil que a Jamestown procura "são propriedades em desuso que precisam de uma solução a longo prazo", clarifica, como o edifício que a empresa comprou nos Olivais há dois anos por 98 milhões de euros. O The Innovation and Design Building Lisbon (IDB),que era conhecido como o Entreposto, foi reconvertido e serve hoje para acolher empresas inovadoras, juntando ainda um extenso "rooftop" com restauração, arte e atividades desportivas (incluindo percursos de skate, entretanto alargados, uma pista de corrida e tabelas de basquetebol. "Este edifício é muito apelativo porque tem 60 mil metros quadrados, o que é pouco comum em Portugal, e foi construído numa espécie de estrutura industrial do início do século XX. Gostamos muito dos Olivais", diz ao Negócios.

Questionado sobre o valor que têm para investir em Portugal, garante que o que estimula a empresa "é mais encontrar o imóvel certo do que [pensar] sobre o dinheiro". Em todo o caso, indica até onde estão dispostos a ir. "Certamente não descartaríamos ter 300 a 500 milhões de euros de uma carteira aqui", afirma. Uma gota no oceano. Com investimentos em vários países europeus, na América do Norte e do Sul, a Jamestown tinha no final do primeiro trimestre 12,5 mil milhões de atives sob gestão, sobretudo escritórios e retalho mas também urna parte residencial. A empresa foi responsável, entre muitos outros, pela reconversão da Ghirardelli Square, em São Francisco, ou do Chelsea Market, em Nova Iorque (que, mais tarde, em 2018% foi vendido à Google por 2,5 mil milhões de dólares).

"Somos investidores de longo prazo em Portugal, estamos para ficar. Construímos uma equipa localmente e estamos focados em ativos com horizonte de longo prazo. O IDB é um lugar que evoluirá nos próximos cinco a 10 anos. Não estamos aqui com um relógio de ponto e um talão de cheques para dizer 'ou encontramos [uma oportunidade] ou vamos embora'. Estamos aqui para encontrar os edifícios adequados", assegura. Pode é não ser fácil avançar com esses projetos, tendo em conta que Michael Phillips lamenta a pouca agilidade dos procedimentos. "Como sabe, as coisas muitas vezes demoram em Portugal", afirma, e o tipo de projetos que interessam à empresa obrigam a uma reconversão que "leva tempo". Ainda assim, quando questionado se estas dificuldades podem ser um obstáculo ao investimento da Jamestown, responde que "em Lisboa a burocracia é menor do que noutras capitais europeias", criticando o excesso de regulamentação na UE, por comparação com Reino Unido ou EUA. "Aqui na Europa as coisas andam mais devagar". Mas "a intenção está lá", nota o presidente da Jamestown. "Portugal está aberto para fazer negócios de uma forma que a maioria dos outros países da Europa não está. O convite para as pessoas virem e investir é real", considera Michael Phillips, que destaca a aposta na inovação e em eventos como a Web Summit, e sublinha a importância do turismo - que "está em alta" -, do programa dos vistos "gold" e da "companhia aérea nacional [TAP], que tem feito grandes progressos para se tornar um “hub". Um planeamento que "continuará a render dividendos" para o país, defende ainda. "Portugal está na boca de todos". 'Também é uma altura em que os estrangeiros vêm e em que os portugueses estão a regressar", acrescenta o gestor, notando que há "uma geração muito bem educada" e "uma força de trabalho muito bem preparada" que "tem oportunidades de trabalho para ficar e fazer carreira". Apesar de o momento ser desafiante um pouco por todo o mundo, "com aumentos nas taxas de juro, inflação e custo de construção", o gestor entende que, "neste momento, o sol está a brilhar em Portugal de uma forma que não acontece no resto da Europa". Em parte. deve-se "a eventos infelizes como a guerra", que leva ''empresasa mudarem-se da Ucrânia e da Rússia", considera o presidente. "Tem criado alguma entrada de negócios para Portugal", que "sempre foi um refúgio em momentos de conflito", defende ainda. "Acho que Portugal é certamente uma terra de oportunidades em comparação com outros lugares da Europa".

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