Como um fundo de investimento americano tenciona aplicar os primeiros 100 milhões (de um total de 500 que tem para investir em Portugal) no antigo edifício do Entreposto
O fundo de investimento americano Jamestown tem até 500 milhões de euros para investir em Portugal. Os primeiros 100 milhões estão a ser aplicados no antigo edifício Entreposto, na zona oriental de Lisboa.
Se o espaço em Lisboa vale ouro, quão inusitado seria não o aproveitar ao máximo? E porque não fazê-lo de forma prazerosa, de forma a ser uma fonte de lazer e de atração? É precisamente isso que está a ser feito na cobertura do referencial edifício do Entreposto, na zona oriental de Lisboa, entretanto rebatizado de IDB Lisbon – Innovation & Design Building Lisbon. Restauração, pistas de skate, zona de matraquilhos, tabelas de basketball (pintadas por artistas da comunidade) e galeria de arte são apenas algumas das atrações que estão a ser implementadas no topo do edifício que, no total, conta com uma generosa área de 48 mil metros quadrados.
A proprietária do edifício, a Jamestown, empresa americana de investimento e gestão imobiliária, quer fazer em Lisboa o que já fez no seu país de origem, onde também já existe um Innovation & Design Building Boston. O objetivo é criar um espaço que atraia não só o público em geral para o seu rooftop mas, e principalmente, empresas com cariz inovador e startups tecnológicas para os diversos espaços de escritório que estão a ser concebidos no edifício.
A escolha do imóvel e da localização não foi um mero acaso de oportunidade. A Jamestown procurava em Lisboa uma zona emergente (como a que existe em Marvila, nas proximidades), perto do aeroporto (a dois passos dali) e um imóvel com um caratér mais industrial, alinhado com o segmento mais disruptivo e inovador que pretendem atingir.
“Queríamos um edifício que reunisse todos os ingredientes para o tipo de espaço que estamos focados. Lisboa tem muitos edifícios dos séculos XVIII e XIX mas poucos edifícios industriais mais altos, com um maior número de andares, com tetos também altos… E era isso que procurávamos. A planta do andar é grande, as vistas são agradáveis, a história do edifício é bastante conhecida em Portugal, o Entreposto, que estava no centro do que era a inovação e era precisamente isso que desejávamos pois estamos focados em convidar para o edifício inquilinos com usos inovadores também”, explica Michael Phillips, realçando que também pesaram a vista, a relação com o Tejo e a proximidade ao Parque das Nações.
Neste momento, a empresa está a trabalhar a dois níveis – na renovação de vários espaços interiores, por um lado, e nas atividades de dinamização do rooftop para atrair novos públicos e, em simultâneo, envolver a comunidade local, incluindo a artística.
Entre os atuais inquilinos contam-se, por exemplo, a Mercedes, a Zome ou a Santa Casa da Misericórdia e o objetivo, tal como já acontece em Boston, é apostar na diversidade de negócios mas deixando aberta a oportunidade de interação.
“A ideia em Boston foi criar um ecossistema que estimulasse as interações entre negócios e pudesse alavancar o valor específico de estratégia de cada empresa. Aqui queremos fazer algo semelhante com áreas como a moda, a tecnologia, o coding, o gamming ou o design de arquitetura, por exemplo”, reforça ainda o CEO da Jamestown.
O trabalho de reposicionamento do edifício arrancou há dois anos mas toda a intervenção ficará concluída nos próximos três anos.
Este é o primeiro investimento em Portugal da Jamestown, que tem mais de 12,5 mil milhões de euros de ativos sob gestão e um portefólio nos principais mercados dos Estados Unidos, América Latina e Europa.
Dos 300 a 500 milhões de euros atribuídos para serem investidos no mercado nacional, cerca de 100 milhões já foram alocados ao antigo edifício do Entreposto. Mas a empresa está atenta a novas oportunidades.
“Estamos focados em Lisboa e Porto, mas o próximo negócio que iremos anunciar é também aqui na capital e será na área do mercado de inovação”, referiu o responsável.
Questionado sobre a morosidade dos processos de licenciamento e a forma como a empresa tem gerido as suas expectativas na estratégia previamente definida, Michael Phillips realçou o esforço das entidades governativas em gerir as expetativas e a dinâmica criada num país que entrou, de repente, no radar dos investidores de todo o mundo.
“Todos os países têm desafios em termos de burocracia e essa regulação é muito comum pela Europa. Portugal tem a intenção de melhorar e de inovar, apenas tem o desafio do tempo que isso demorará a concretizar. Acredito que seja muito difícil um país passar do 0 para 100 e Portugal tem feito um trabalho espantoso, inovando e empenhando-se em fazer crescer a sua economia”, realçou ainda o CEO da Jamestown, sublinhando que “Portugal está na boca de toda a gente” e isso permitirá a “economia desenvolver-se de uma maneira proactiva”.
Com 40 anos de existência, a Jamestown já efetivou transações superiores a mais de 40 mil milhões de euros (40 mil milhões de dólares). Entre os projetos mais icónicos que fazem parte da sua carteira de ativos estão o One Times Square e o Chelsea Market, em Nova Iorque, a Industry City, em Brooklyn, o Ponce City Market, em Atlanta, o Ghirardelli Square, em São Francisco, o The Innovation and Design Building em Boston e em Lisboa, e o Groot Handelsgebouw, em Roterdão.